Por: Alex The Kid
Superman II – A Aventura Continua, foi o primeiro filme baseado no herói que assisti. Foi na TV aberta, no meio da década de 1980 e lembro ter adorado o longa.
Obviamente, a TV apresentou o filme em versão brasileira, com sua dublagem feita pelos estúdios da Herbert Richers. O segundo filme do Homem de Aço é o único que mantém até hoje, sua versão brasileira original preservada. Os demais longas passaram por redublagens, tirando do público a possibilidade de ouvir as vozes marcantes de profissionais como: André Filho (Superman/Clark Kent), Fátima Mourão (Lois Lane) e Darcy Pedrosa (Lex Luthor).
Toda vez que assisto Superman II – A Aventura Continua, eu procuro colocar dublado para assim amplificar a experiência nostálgica que o filme traz. Porém, com o passar dos anos, pude reparar que o filme não é tão incrível quanto eu considerava quando criança. E seus problemas começaram antes mesmo do lançamento do primeiro longa nos cinemas (veja nossa análise de Superman – O Filme aqui: https://podounaopod.wordpress.com/2018/05/01/superman-o-filme-superman-1978/).
Os dois primeiros filmes começaram a ser rodados ao mesmo tempo pela equipe comandada pelo diretor Richard Donner. Foram dezenove meses de trabalho até que, em determinado momento, Donner e os produtores do filme começaram a se estranhar.
Conhecidos por não serem produtores fáceis, Spengler e os Salkind começaram a exigir que Donner acelerasse a produção do longa, dentre outras coisas. Para a equipe, a impressão que foi passada foi a de que os produtores queriam que Donner se demitisse, ou que se tornasse insubordinável a ponto de ser demitido (algo bem comum no mundo coorporativo). O fato é que, assim que Superman – O Filme estreou e comprovou-se um sucesso, os produtores dispensaram Donner.
No entanto, o segundo filme estava praticamente todo gravado, faltando apenas algumas poucas cenas, sendo que com uma nova direção, uma discrepância de métodos de filmagem foi aplicada, transformando Superman II – A Aventura Continua, numa tremenda colcha de retalhos.
Quem assumiu a cadeira de direção de Donner foi Richard Lester, um diretor que tinha a admiração dos produtores, mas que foi um dos responsáveis diretos para a significativa queda de qualidade nos longas do Homem de Aço.
Lester é um diretor que procura colocar a comédia em seus trabalhos. Em Superman II, esse perfil é demonstrado de forma atrapalhada e inconveniente, transformando o filme numa obra boba, infantilizada e, em alguns momentos, sem sentido.
O roteiro do filme também fora modificado. Originalmente escrito por Mario Puzo e reformulado pelo competente Tom Mankiewicz, a história do longa acabou sendo modificada por David e Leslie Newman (que também escreveram o roteiro do bisonho Superman III).
Com diversas cenas reescritas, os atores de Superman II acabaram sendo convocados para refilmagens, o que gerou mais descontentamento na equipe, que já não estava satisfeita com a demissão de Donner.
Tais refilmagens ocorreram em 1979, sendo que as tomadas originais haviam sido feitas em 1977. Com isso dá para ver algumas diferenças na aparência dos atores. O cabelo de Lois Lane (Margot Kidder) tem alteração de tamanho entre algumas cenas, por exemplo.
Gene Hackman, o Lex Luthor, recusou-se a participar das filmagens. O produtor Ilya Salkind afirmou que a ausência do ator (que fora substituído por um dublê em um par de cenas) se deu por conta de conflitos de agenda. Porém, sabe-se que Hackman abandonou o projeto com a saída do diretor Richard Donner.
Uma segunda ausência também sentida foi a de Marlon Brando, intérprete do pai biológico do Superman (Christopher Reeve), Jor-El. Apesar de aparecer no início do longa, no julgamento do Conselho de Krypton, Brando teve sua participação cortada no meio do longa, onde interage com Kal-El na Fortaleza da Solidão.
O motivo da ausência do ator pode ser explicado por uma ação judicial. Sim! Marlon Brando processou os produtores e, também a Warner Brothers, por considerar que merecia uma parcela maior da arrecadação da bilheteria do longa anterior. Diante dessa situação, sabendo que teriam que pagar uma bolada para Brando caso o mesmo figurasse por mais tempo no filme, a produção optou em substituir suas cenas na Fortaleza Solidão por uma interação entre o Superman e sua mãe biológica Lara Jor-El, interpretada por Susannah York.
Outras modificações além de roteiro, direção e elenco, podem ser sentidas em Superman II – A Aventura Continua. Um dos muitos pontos altos do primeiro filme, sua trilha sonora, foi trabalhada por Ken Thorne em substituição ao maestro John Williams. A música de Thorne, não pode ser tratada como ruim, pois o artista é competente. Porém, seu trabalho no filme é um simples remendo.
Em relação à trama, o filme remete ao trio de vilões kryptonianos, julgados por Jor-El e o conselho de Krypton, sendo condenados ao isolamento na Zona Fantasma. Esse julgamento, ocorre pouco antes da explosão do planeta natal do Superman no primeiro longa e é o ponto de partida do segundo.
O trio de indivíduos é liderado pelo General Zod (Terence Stamp), que é seguido pela maligna Ursa (Sarah Douglas) e pelo irracional Non (Jack O’Halloran). O grupo consegue se libertar da Zona Fantasma quando o Superman arremessa uma bomba de hidrogênio no espaço.
Com uma coincidência absurda que só Hollywood pode proporcionar, o bando de Zod vem parar na Terra e destrói tudo que encontra pelo caminho. Falando inglês fluente, os kryptoniados se dirigem ao “centro do universo”, a Casa Branca, e tomam o controle da Terra. O trio acaba sendo assessorado por Lex Luthor, que fugiu da prisão e foi buscar informações sobre o Superman no norte, onde acabou encontrando a Fortaleza da Solidão.
Enquanto tudo isso acontece, Lois e Clark foram enviados para as Cataratas do Niágara, onde atuam como jornalistas investigativos para denunciar um esquema de fraude da rede hoteleira local. É lá que ocorre uma das cenas mais bisonhas do filme, onde Lois descobre a identidade do Superman, após Clark tropeçar e cair com o braço enfiado numa lareira (realmente, é muito comum o Superman tropeçar).
Diante da descoberta de sua identidade, o Superman perdidamente apaixonado pela colega de trabalho, a leva para sua Fortaleza da Solidão, onde apresenta à Lois, toda sua real história e acaba abdicando de seus poderes para ficar com ela e ter uma vida de romance.
O problema é que o Superman tem que enfrentar o bando do General Zod e sem poderes, não vai rolar!
É óbvio que o Home de Aço se recupera e acaba vencendo a turminha do mal. O problema é que roteiro e direção tratam desse problema de forma superficial e inconsistente. Além disso, poderes criados especificamente para o Superman aparecem no filme, como a famosa “super-faxina-mental”, onde o Superman usa os mesmos poderes do Professor Charles Xavier, dos X-Men, para apagar a memória de Lois. Só que o Azulão faz isso com um beijo na repórter (morra de inveja, Professor X).
Concluindo, posso dizer que Superman II – A Aventura Continua é um desperdício. Foi um ótimo filme para as crianças da década de 1980 e certamente tem um valor sentimental muito forte. Mas tecnicamente possui muitos erros, a começar com as lacunas de roteiro que são imperdoáveis. Muito da equipe inicial se evadiu após a demissão do diretor Richard Donner e a queda de qualidade para o primeiro longa é gritante.
O filme acaba dando o exemplo do que acontece quando interesses pessoais se sobrepõe à busca pela qualidade de um trabalho. Hollywood já demonstrou algumas vezes que, quando o dinheiro fala mais alto, a possibilidade de se estragar uma franquia é grande.
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