Os Reis da Ação #6 Rocky: Um Lutador (Rocky – 1976)

Por: Alex The Kid

O filme que lançou Sylvester Stallone ao estrelato, é, além de um de meus favoritos, uma verdadeira obra de arte. Existe um preconceito absurdo com a franquia (e com o ator principal, é claro) por culpa, acredito eu, do próprio Stallone, que levou continuações demasiadas ao cinema. São seis filmes e um excelente spin-off, que também receberá uma continuação esse ano (2018).

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Uma das cenas icônicas desse clássico!

O primeiro longa é um romance. Diferente do que a maioria das
pessoas (ignorantes no assunto) pensam, Rocky: Um Lutador não é um filme de ação. Não! Pelo amor de Deus! Não é! É um romance com uma pitada dramática temperando a trama. Não preciso me alongar na sinopse porque é desnecessário, mas farei um breve relato para quem ainda não viu (onde você esteve nos últimos quarenta anos?).

O filme conta a história de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um pugilista de quinta categoria que, por pura sorte, foi escolhido pelo campeão, Apollo Creed (Carl Weathers), para uma luta valendo o cinturão dos pesos-pesados, após o desafiante anterior ter se contundido. A partir daí muita coisa muda na vida de Rocky. Ele deixa o trabalho de cobrador (trabalhava para um agiota) e o treinador, que anteriormente o desprezava, vem até ele para também conseguir uma chance de redenção.

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Rocky e seu treinador, Mickey.

Os personagens são apresentados com riqueza de detalhes, mostrando as personalidades e anseios de cada um deles. As discussões entre Rocky e Mickey, o treinador (brilhantemente interpretado por Burgess Meredith), têm um clima fraternal. Como se um precisasse do outro. E de fato precisam. A cena no apartamento de Rocky, quando Mickey se oferece para treiná-lo, é tocante. Chega a dar angústia pois ambos são carentes. Parecem pessoas abandonadas. E o mesmo se implica na relação com Adrian (Talia Shire). Ela também é carente. Mickey precisa de um filho e Rocky precisa de um pai, assim como Adrian precisa de um companheiro e Rocky precisa de uma companheira. Enquanto Mickey cuidará de Rocky nos treinos e na luta, Adrian cuidará do espírito de Rocky.

Adrian é a única pessoa com quem Rocky se abre. O relacionamento entre ambos é quase uma simbiose. Já Paulie (Burt Young), irmão de Adrian, é uma figura asquerosa. É um pústula, um covarde. Abusa moralmente da irmã porque ela, aparentemente, é fraca. Mas, apesar de ser um porco, o irmão de Adrian é o único amigo de Rocky e Rocky é o único amigo dele. Tanto o é, que mesmo quando provocado, já que Paulie passa dos limites o tempo todo, Rocky não o agride. A cena que ratifica essa ideia ocorre no trabalho do Paulie, no frigorífico, quando Rocky, para não dar uma surra no amigo, espanca uma peça de carne. Nasce aí uma cena emblemática! É! Rocky Balboa treina socando costelas de boi!

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Rocky leva a tímida Adrian para passear.

Voltando ao relacionamento com Adrian, afirmo com total convicção que é um dos casais do cinema mais agradáveis de se assistir. Não há sacanagem. Há a interpretação pura e sincera do amor. No momento em que Rocky diz a Paulie que Adrian completa espaços vazios, é sacramentado o que um casal faz. Se completa. A primeira vez que Adrian entra no apartamento de Rocky, ela fica receosa, porque, ora bolas, o que uma super-tímida-quadrada está fazendo à noite no apartamento, pra lá de zoneado de um cara solteiro, com facas penduradas, tartarugas e pôsteres de Rocky Marciano, Beatles e etc? Mas ele deixa claras as suas intenções com duas frases: Na primeira diz um “você é minha convidada”, o que a acalma e na segunda solta um “não precisa beijar se não quiser” o que a convence. Tudo com carinho e cuidado. E assim se desenvolve o relacionamento.

Na véspera da luta Rocky constata a impossibilidade de vencer o campeão e deseja apenas redenção. Ele abraça a oportunidade de não ser mais o vagabundo da vizinhança. E é para isso, para a redenção, que terá que aguentar todos os rounds contra Apollo Creed. Pois isso era um feito inédito.

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Rocky e Apollo protagonizam uma das maiores duplas de rivais da história do cinema.

O momento mais tocante da peleja, a meu ver, ocorre no penúltimo assalto, quando Rocky, que havia sido derrubado, se levanta e chama Apollo com as mãos. O mesmo, incrédulo, o encara. A decepção que Carl Weathers imprime em seu personagem é de uma veracidade incontestável. Comovente.

O que acaba acontecendo é que a luta é esperada e é claro que é o clímax máximo do filme (destaque para a participação especial do campeão dos pesos-pesados Joe Frazier), mas quem assiste, adora e aproveita cada momento anterior porque os personagens são cativantes, bem trabalhados e interpretados com muita competência pelos atores. Não há um retoque a ser feito no trabalho dos astros envolvidos. E isso deve-se também ao excelente trabalho do diretor John G. Avildsen, que nos deixou em 2017, mas que tem seu trabalho imortalizado nas franquias Rocky, Karate Kid e em filmes ótimos como Meu Mestre, Minha Vida (1989).

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A clássica cena de Rocky socando a carne.

Rocky: Um Lutador traz personagens profundos, atuações pra lá de convincentes, um excelente roteiro escrito por Stallone e a mais famosa training montage da história, acompanhada de uma trilha sonora igualmente marcante (incluindo Gonna Fly Now – de Bill Conti). A música do filme é única e é conhecida globalmente.

Todos esses atributos transformam Rocky: Um lutador num filme irretocável e merecedor dos prêmios Oscar que que ganhou.

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Apesar de ser um pústula, Paulie é o único amigo que Rocky possui.

Não posso deixar de fazer um rápido comentário no que se refere à versão dublada, que também foi assistida. Digo que o pessoal da Telecine (dubladora) fez um excelente trabalho. Irretocável e com o devido destaque ao saudoso André Filho (dublador do Stallone em diversos filmes e que infelizmente vem tendo sua voz apagada em redublagens, algumas delas péssimas).



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