Grandes Encontros Marvel & DC nº 1 – Super-Homem & Homem-Aranha (1993 – Original de 1976)

Por: Alex The Kid

 

Em março de 1993, passeando num shopping de São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, com a minha mãe e irmã, eu tive uma das visões mais impactantes da minha juventude nerd: Um crossover (na época nem usávamos essa palavra) entre as duas maiores editoras de quadrinhos conhecidas no universo. Marvel e DC.

 

Você que está lendo, já viu no título desse texto sobre o que irei dissertar. Mas deixe que eu contextualize e venha viajar comigo. Eu tinha treze anos de idade e era um entusiasta dos quadrinhos. Gostava da Liga da Justiça cômica de J.M. DeMatteis, já tinha lido alguma coisa do Batman, um pouco do Superman e algo do Homem-Aranha através do título A Teia do Aranha, que na época consistia em republicações de histórias clássicas do Amigão da Vizinhança.

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Na imagem, a capa original do encontro entre os heróis e a introdução do primeiro prólogo. A imagem do Super-Homem e do Homem-Aranha se encarando era algo eletrizante!

Nessa época eu também já sabia que existiam duas gigantes dos quadrinhos. Marvel e DC. Só que na época, o público nerd do Brasil não tinha absolutamente nenhum meio de comunicação que conversasse com ele quando o assunto era quadrinhos. Zero! Nenhum jornal ou revista especializada, nem programa de TV, a internet estava longe de chegar às nossas casas… Nadica! Então, como escrevi no primeiro parágrafo, andando pelo shopping eu entro na banca de jornal, já pronto pra fazer um pedido de algo pra minha mãe e acabo sendo atingido por uma imagem que mudaria meu entendimento sobre quadrinhos para sempre: Super-Homem (nada de Superman daqui por diante) e Homem-Aranha coabitando uma única capa. E que capa! Que impacto!

 

Gaguejando eu corri em direção da minha mãe com o gibi nas mãos. Frases que continham “isso é incrível” e “pelo amor de Deus, mãe” foram ditas e a Dona Marina não me decepcionou. Ela comprou o gibi e eu fui para casa com um sonho materializado em 100 páginas de argumento e arte pra lá de competentes.

 

No carro da minha mãe, eu voltava para casa sonhando. Sim! No verso do gibi havia informação suficiente para um ano de ansiedade, pois não eram apenas Super-Homem e Homem-Aranha que se encontrariam. A série Grandes Encontros Marvel & DC traria ainda X-Men & Novos Titãs, Batman & Hulk e Super-Homem & Homem-Aranha II. E toda essa expectativa eu considero fundamental para minha consolidação como leitor de quadrinhos, pois nunca antes eu havia me empolgado tanto com gibis de super-heróis.

 

Pois bem, ao chegar em casa, corri para o meu quarto e sentado na minha cama eu iniciei a leitura com um sorriso no rosto que deve ter permanecido por horas. Super-Homem e Homem-Aranha juntos! Que demais!  

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Na esquerda Gerry Conway e na direita Ross Andru (que nos deixou já algum tempo). Roteirista e desenhista respectivamente.

A primeira parte da leitura é uma introdução do mestre Gerry Conway. Ele explica que o crossover entre Marvel e DC, o primeiro da história entre editoras distintas, ocorrera através do famoso agente literário David Obst, conhecido por representar os jornalistas que iniciaram a publicação do caso Watergate.

 

Obst intermediou as conversas entre os representantes da Marvel, Stan Lee, e da DC, Carmine Infantino. As negociações tiveram sucesso e, a partir daí, foram escolhidas as figuras que participariam da parte criativa. Que time, amigos! Nos argumentos, Gerry Conway e na arte Ross Andru e Dick Giordano. Além deles, Roy Thomas entrou como consultor de criação. A partir daí, mãos à obra.

 

A série Grandes Encontros Marvel & DC é na verdade composta de reedições. Super-Homem & Homem-Aranha, começou a ser produzida originalmente em 1975, chegando às bancas americanas em 1976 e às brasileiras no ano seguinte, pela editora Ebal. Então, o que vemos aqui é o Homem de Aço dez anos antes de Crise Nas Infinitas Terras, evento de reformulação editorial da DC Comics.

 

Pelo tempo de sua publicação, podemos ver Clark Kent trabalhando numa rede de televisão, chamada TV Galáxia. Morgan Edge é seu chefe. Além disso, Lois Lane era chamada de Miriam Lane, nome escolhido para a personagem no Brasil, tendo em vista que Lois tem a pronúncia parecida com Luís e segundo os editores da época, isso confundiria os leitores. Uma tremenda confusão e uma péssima ideia. O nome original da personagem seria normalizado nas edições nacionais durante a década de 1980.

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A contracapa de Super-Homem & Homem-Aranha.

Pois bem, intitulada no Brasil como O Maior Combate De Todos Os Tempos, a história que reúne Homem-Aranha e Super-Homem traz três prólogos. Um para cada herói e outro para a dupla de vilões que infernizará os mocinhos: Lex Luthor e o Dr. Octopus.

 

Os prólogos mostram os heróis, como sempre, derrotando seus inimigos e os entregando para as autoridades. São mini-aventuras que servem para apresentar ao leitor um pouco das personalidades do Azulão e do Cabeça de Teia.

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Cada herói possui um prólogo que mostra aventuras triviais, porém que acabam se conectando.

O primeiro prólogo é fundamental para que uma espécie de “MacGuffin” da história surgisse. Trata-se de um dispositivo que Lex Luthor rouba dos Laboratórios DELTA (o antigo Laboratório S.T.A.R.). Esse dispositivo é um circuito de programação, capaz de operar satélites na órbita da Terra. Luthor consegue esconder o dispositivo antes de ser preso pelo Homem de Aço, que na sequência vai para a Conferência Mundial de Jornalismo em Nova Iorque, cidade do Homem-Aranha. O Aracnídeo também vai para a Conferência.

 

Enquanto isso, no terceiro prólogo, finalmente o primeiro encontro. Lex Luthor e Otto Octavius, são presos na mesma galeria de celas. Obviamente, eles se aliam e fogem.

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O terceiro prólogo conta como Lex Luthor e o Dr. Octopus se encontram na prisão. Pela personalidade de Lex Luthor, obviamente que ele induziria Octopus a auxiliá-lo.

Os prólogos se encerram com interessantes fichas de identificação, tanto dos heróis da trama, quanto dos vilões. Isso mostra como toda a história é bem organizada e possui o cuidado suficiente para que leitores inexperientes não se percam, explicando detalhes de relacionamentos prévios dos personagens, bem como do comportamento usual dos mesmos.

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O Homem-Aranha é atingido por radiação de uma estrela vermelha, proporcionada por Luthor. Isso equipara sua força à do Super-Homem. Mas em determinado momento, a energia se esgota.

Na metade do gibi, finalmente se inicia o ponto fundamental de encontro dos heróis. Trata-se do Capítulo I, intitulado Duelo de Titãs. Obviamente, o Super-Homem e o Homem-Aranha saem no braço antes de fazer as pazes e se unirem para deter o plano articulado por Lex Luthor com a ajuda do Dr. Octopus. O confronto entre os heróis é explicado de forma “científica”, sendo que Luthor dá uma mãozinha para que o aracnídeo, com poder bem inferior ao Homem de Aço, possa enfrentá-lo de igual pra igual.

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Quando a paciência do Super-Homem se esgota, ele desfere um soco, mas detém o mesmo com medo de matar o Aranha. O deslocamento de ar faz o Cabeça de Teia decolar. Isso é o suficiente pra mostrar o quão poderoso o Homem de Aço é diante do herói da Marvel.

O resto da história caminha de forma dinâmica e divertida, mostrando interações improváveis entre personagens das editoras, que se parecem de um jeito e se diferem de outro. É uma tremenda história em quadrinhos. Da qual eu não darei mais spoilers.

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As interações de personagens secundários traz Morgan Edge e J.J. além de Miriam Lane e Mary Jane.

Não há nenhuma reviravolta envolvida na trama de Super-Homem & Homem-Aranha. Sua época de produção tinha obras baseadas na simplicidade, mas caminhavam para uma nova fase, onde heróis começariam a ser desconstruídos, modernizados e etc. Sendo assim, se um leitos torcer o nariz para a simplicidade de Super-Homem & Homem-Aranha, ele não deve fazer o mesmo diante de seu contexto histórico.

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Obviamente o Super-Homem e o Homem-Aranha se aliam e partem para a busca dos vilões.

Obviamente, há um interesse maior em cima daquilo que viabilizou a existência do primeiro crossover entre Marvel e DC Comics. Dinheiro. Mas eu sinto certo carinho naquilo que foi entregue ao leitor. E fiquei satisfeito de ler dois de meus super-heróis favoritos em uma mesma aventura. Eu tinha treze anos e uma cabeça pronta pra absorver todo tipo de informação acerca de quadrinhos.

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Os heróis vencem sem nenhum efeito colateral. Isso é típico de histórias antigas.

Não é tão difícil de encontrar um exemplar usado por aí. E eu recomendo que você adquira um. Aventura há! Grandes, vilões, grandes heróis, arte e texto de qualidade, além uma leitura agradável de quase uma hora. Por que não, não é mesmo?

Nota: Muitas das imagens dessa matéria, foram extraídas do site Guia dos Quadrinhos. Recomendo o acesso para quem for leitor. Segue o link: http://www.guiadosquadrinhos.com/