Batman – Veneno (1992 – BR)

Por: Alex The Kid

 

Eu conheço Batman – Veneno, há muitos anos (em território nacional, sua publicação original foi em julho de 1992, na série Um Conto de Batman, da Editora Abril), porém, mesmo sabendo da existência dessa história, eu nunca havia lido a mesma. Finalmente, no início de 2019, a Panini tratou de trazer uma republicação. Veio em um encadernado de lombada quadrada, capa cartão e papel especial. Não é uma edição de luxo, então não há nenhuma informação de bastidores, apenas uma galeria de capas. Mas só o fato da Panini relançar esse arco, já me deixa feliz. Agora, eu tenho nas mãos uma das grandes histórias do Batman Pós-Crise nas Infinitas Terras, e vou dividir com vocês as minhas impressões sobre esse arco de cinco capítulos.

Veneno 1
Na imagem da esquerda, Batman tenta salvar uma criança, mas não consegue ultrapassar um obstáculo. Isso faz com que ele se culpe por não ser forte o suficiente. Na imagem da direita, Batman sede e utiliza uma droga capaz de aumentar sua capacidade física. É a droga Veneno!

Batman Veneno é um conto pesado, mas de leitura fácil. A história de veneno começa com Batman, ainda em início de carreira como vigilante, tentando resolver um caso do sequestro de uma garotinha. O herói chega a encontrar a vítima, amarrada numa galeria subterrânea que estava sendo inundada. Com a água já no pescoço, o único obstáculo entre Batman e a vítima, é uma pedra de mais de 200 kg. Batman não consegue erguê-la e a garota morre afogada.

Para os leitores experientes, é evidente que o caso atormentaria o Cavaleiro das Trevas, sendo exatamente isso que ocorre. Batman resolve contar o ocorrido, pessoalmente, à família da vítima, no caso o pai, o Dr. Randolph Porter. Numa conversa vazia e fria, o Dr. Porter não demonstra emoção alguma ao ser informado da morte da filha. Ele parece mais interessado nos comprimidos que manipula. Trata-se da droga Veneno, capaz de aumentar em muito a força física de um ser humano. Porter oferece a droga ao Batman, que numa primeira oportunidade recusa. Porém, enfrentando dificuldades em combate, acaba por aceitar as pílulas na sequência.

Veneno 2
Sem usar o uniforme de Batman, Bruce Wayne deixa de lado a metodologia detetivesca e se torna mais agressivo e menos inteligente. São os efeitos da droga Veneno.

O leitor então observa que a inteligência do Cavaleiro das Trevas reduz bruscamente enquanto o mesmo consome a droga. E menos inteligência, gera mais conflito. Batman perde o apoio de Alfred e se afasta de Gordon, seus dois maiores aliados, e se vê incapaz de lembrar de coisas simples. Então, o Dr. Porter e seu aliado, o militar da reserva Timothy Ashton Slaycroft, conseguem manipular Batman e colocá-lo dentro de um plano para assassinar o então Capitão James Gordon, que vinha atrapalhando as atividades criminosas da dupla. Mas Batman consegue ter um momento de lucidez. Ele alerta Gordon e parte para enfrentar Porter e Slaycroft, contudo falha. Os vilões fogem para Santa Prisca e colocam em prática o passo a passo do experimento para criar super-homens através da droga Veneno.

Vou me frear na síntese da história por aqui, para que o leve plot não se estrague. Mas é importante falar da construção da história, que é narrada de forma muito competente, fazendo com que o leitor tenha uma imersão boa e o desenrolar dos capítulos sendo tão dinâmico, que fica difícil partir a leitura. Sendo assim, os cinco capítulos são devorados! Esse mérito é do brilhante roteirista Dennis O’Neil, que tem como companhia nos esboços Trevor Von Eeden e na arte a dupla Russell Braun e o homem que criou os modelos da DC Comics, José Luis García-López. Com a história bem narrada, como disse acima, a arte de qualidade transforma Batman – Veneno, numa obra já eternizada.

Veneno 5
Batman consegue racionalizar e decide se livrar da droga Veneno

A história desse arco traz muito mais do que aparenta, ela demonstra como anabolizantes possuem um efeito oculto. Batman deixa de usar a inteligência para, pura e simplesmente, dedicar-se à brutalidade. Com isso, acaba sendo manipulado. E faz ainda uma analogia dolorosa de como a família de uma pessoa com vício em drogas, sofre tanto quanto o viciado. Na página 64, por exemplo, quando Batman finalmente consegue ter um pouco de lucidez, o mesmo pede ajuda ao afastado Alfred. O Cavaleiro das Trevas está reduzido a pó. Ele chora. Foi um dos momentos mais chocantes que já vi em uma obra envolvendo o Batman. Nunca vou esquecer a imagem do herói em tamanha fragilidade.

O arco Veneno traz ainda o momento de superação do Batman, e deixa implícita sua poderosa capacidade detetivesca. Os vilões da trama, são de quinta categoria, mas deixam um legado que até hoje atormenta o Batman, afinal de contas, a droga Veneno é a mesma usado pelo vilão Bane (observe que acima eu citei Santa Prisca, justamente a terra natal de Bane), que no arco A Queda do Morcego, fraturou a coluna do Batman, deixando Bruce Wayne afastado da ação por um longo período.

Veneno 4
Batman se desespera e pede para que Alfred o tranque. O herói fica um mês isolado na caverna buscando desintoxicação. Seu estado ficou crítico, mas ele supera.

Concluindo, Batman – Veneno é uma história dura, muito violenta (mais emocionalmente do que graficamente) e que merece a leitura de qualquer fã de quadrinho, cumprindo com muita qualidade o famoso passo a passo da chamada “jornada do herói”. Há um clichê ou outro, como uma armadilha mirabolante e uma pequena piada com um eventual repelente de tubarão, mas que servem como easter egg do Batman da década de 1960.

Deixe um comentário