Um Videogame Mega #1 (Altered Beast – 1988)

Por: Alex The Kid

Em 1991, um momento de infelicidade de um amigo transformou-se em uma oportunidade para a turma do meu prédio conhecer um videogame novo. Éramos três gamers, sendo que eu possuía um Master System, um amigo possuía um Nintendinho e o outro amigo gamer também tinha um Master.

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Tela de introdução.

Esse outro amigo, possuidor do Master System teve a casa arrombada. Os ladrões furtaram tudo de valor que tinha lá dentro, incluindo o Master dele. Essa situação horrorosa, como acabo de descrever, acabou trazendo um benefício. O pai desse amigo vendo que o filho ficou sem o videogame, comprou nada mais nada menos, que um Mega Drive pra ele.

Lembro exatamente como foi. Era aniversário desse amigo (que aconteceu poucos dias após o roubo) e estávamos todos na casa dele. Eu levei meu Master para podermos jogar videogame na festinha. Estávamos lá de boa, quando o pai do meu amigo chegou com o Mega Drive. Que momento maneiro! A molecada ficou doida! Ninguém havia jogado o Mega, que ainda era novidade no Brasil (fora lançado em setembro/1990).

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O jogo tinha um multiplayer que deixava o desafio bem mais suave.

A arte da capa era uma apelação com as crianças. Todo mundo queria jogar aquilo! Lembro da gente falando “O cara vira um lobo”! O Mega Drive foi instalado na TV e ligado em tempo recorde! As duplas se revezavam e eu lembro que nesse dia, alcançamos no máximo a terceira fase do jogo.

Altered Beast foi o cartão de visitas do Mega Drive para muitos gamers brasileiros, incluindo eu. Poucos de nós sabiam que o jogo, na verdade, trata-se de um bem sucedido port (adaptação) dos arcades, que ainda possui adaptações para o Master-System, para o Nintendo 8bits e muitos outros. Joguei as adaptações de Master e NES que, a meu ver, são bem fracas. Tive a desagradável experiência de jogar no Master e cacei na internet a versão do Nintendinho, que pelo menos graficamente, chega a ser imensamente pior que a do antigo rival. A versão de arcade possui gráficos mais caprichados que os do Mega. Não é nada muito relevante, mas alguns personagens passam a fazer mais sentido. Os cérberos, por exemplo, são facilmente identificados (eu tinha dificuldade em definir que tipo de criaturas eles eram na versão do Mega). A música está um pouco mais limpa e as gravações de áudio também.

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A transformação que chamava a atenção da garotada.

A versão testada para esta análise tem suas qualidades, mas não é nenhum jogão, muito pelo contrário. Altered Beast envelheceu mal e faz muitos gamers atuais, que não viveram o momento de transição do Master para o Mega, ficarem de cabelos em pé!

No Mega-Drive, Altered Beast chegou mostrando o poder do sucessor do Master-System. Os gráficos eram impressionantes se comparados aos do Master (trabalho de Makoto Uchida, Rieki Kodama e Hirokazu Yashuara), som e música idem. Muitas cores, em diferentes tonalidades, traziam algo até então inédito aos jogadores de consoles. Vozes digitalizadas divertiam e impressionavam (“RISE FROM YOUR GRAVE”, “POWER UP” e “WELCOME TO YOUR DOOM” são lembradas até hoje). A escolha do game, para apresentar o console, foi um tiro certo.

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A segunda fase tinha a fera mais eficiente.

Altered Beast é um dos símbolos de uma era em que nós gamers precisávamos descobrir, na marra, como derrotar os oponentes que brotavam na tela. Sem ajuda (leia-se tutorial) e sem dicas vindas do próprio jogo. Talvez, com um conselho de um amigo que havia lido um “macete” numa das várias revistas de videogame que na época estavam disponíveis nas bancas. Foi numa dessas condições que descobri os truques que aumentavam a barra de energia, disponibilizavam continues e possibilitavam a escolha de transformações diferentes fase a fase.

A jogabilidade, na época operada num joystick novo de três botões de ação, era acionada com socos e chutes que, além de aplicados com o personagem de pé, poderiam ser aplicados também com a figura principal abaixada e no ar. A diferença de golpes proporcionava o abate dos inimigos de formas distintas, já que não são todos que podem ser vencidos com o mesmo golpe. Com a progressão da fase, o jogador evoluía seu personagem conforme pegava os “power ups” escondidos nos cérberos azuis (os Cérberos que apareciam nas fases, não me pareciam ser o que de fato se propuseram a aparentar. Eu achava que eram mini vacas. Informação ratificada pelos meus amigos na época).

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A terceira fase.

O herói do jogo poderia evoluir em lobo, dragão, urso, tigre e lobo dourado. Cada “besta” com suas habilidades específicas (todo mundo sabe que o dragão é o melhor). As transformações se davam através das fases e correspondiam, respectivamente aos cenários do Cemitério, do Subterrâneo, da Gruta, do Templo e do Mundo dos Mortos.

A música composta por Tohru Nakabayshi, era boa. Tensa e bizarra, que somada com as imagens que apareciam entre as fases, numa aparente e polêmica cena de tortura, davam o tom soturno que o game tinha.

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O tigre era a fera, esteticamente, mais maneira.

Como em todo clássico, as fases do jogo terminam com a figura de um chefão. Um mais sinistro que outro. A última fase (Mundo dos Mortos) é a mais estranha. Segue a toada obscura do jogo. Parece que o herói está no inferno e é recebido de cara por um bode (um dos muitos símbolos do diabo).

O enredo é básico como maioria esmagadora dos games da época. Na Grécia Antiga, Zeus ressuscita um centurião para resgatar Atena, sua filha que foi raptada por Neff, um demônio transmorfo.

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A última fase.

Altered Beast é um clássico imortal que, por mais que tenha envelhecido mal, sempre vale a pena ser jogado. Sua temática pesada era única na época e, apesar de ser um jogo curto, rendia horas de diversão. O título merece uma sequência de respeito (as que existem são dispensáveis). Torço para que venha um dia.

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